Marcha Normal
O pé é uma estrutura extremamente complexa que deve executar uma série de funções biomecânicas importantes, principalmente durante a fase de apoio da marcha. A fase de apoio dura aproximadamente 0.63 segundos, permitindo assim uma mínima quantidade de tempo, para que ocorram estas atividades.
As funções que o pé deve desempenhar durante a fase de apoio são: 1. base de suporte, 2. adaptação para acomodação em qualquer terreno, 3.absorvedor de choque, 4. Alavanca rígida para uma propulsão eficiente e 5.mecanismo de absorção da rotação transversa da perna. O sincronismo destas importantes funções é fundamental para o desenvolvimento da marcha normal.
Fases da marcha. O ciclo da marcha normal para cada membro consiste numa fase de balanço (aproximadamente 38% do ciclo).
Fase de balanço. A fase de balanço é iniciada pela retirada do hálux e concluída com o toque de calcanhar. Duas importantes atividades acontecem durante esta fase. Primeiramente, logo após a retirada do hálux, o membro inferior inicia uma rotaçào interna durante todo o período da fase de balanço. Em segundo lugar, embora o pé inicialmente entre em pronação para auxiliar na liberação do hálux, durante a metade final desta fase o pé entra em supinação, de modo que o calcâneo sofre uma invasão de aproximadamente 2º no toque de calcanhar.
Fase de apoio. Durante a fase de apoio, várias funções do pé apresentam um papel importante no ciclo de marcha normal. Para fins didáticos, divide-se esta fase em: a) período de contato; b) médio apoio, e c) impulsão.
Período de contato. O período de contato inicia com o toque de calcanhar e termina com a retirada do hálux da outra perna. Este período constitui os primeiros 15 a 25% da fase de apoio. Antes do toque de calcanhar, o calcâneo sofre uma inversão de aproximadamente 2º. No toque de calcanhar, o membro inferior continua a sua rotação interna ao longo de todo o período de contato. Para permitir que o pé mantenha essa linha de progressão, a articulação subtalar entra em pronação para absorver a rotação interna da perna. A pronação da articulação subtalar produz simultaneamente em paralelismo nos eixos da articulação transtarsal e cria uma adaptação flexível para acomodação em diferentes terrenos. A pronação da articulação subtalar tem um efeito direto e indireto na redução do choque, gerado por ocasião do toque de calcanhar. A pronação da articulação subtalar cria um encurtamento do suporte da perna, que diretamente diminui o impacto das forças. Indiretamente, a pronação permite que a tíbia rode internamente em uma velocidade mais rápida e mais distante que a do fêmur. Assim, a articulação do joelho pode flexionar-se mais rapidamente para absorver as forças de choque, como resultado de um encurtamento global do membro inferior. No final do contato, o calcâneo sofre uma eversão de aproximadamente 4 a 6º, e a pronação torna-se completa.
Período de médio apoio. O período de médio apoio inicia com o término da pronação da articulação subtalar. O membro inferior inicia a rotação externa, e a articulação subtalar entra em supinação para permitir que o pé permaneça em sua linha de progressão. Quando a articulação subtalar entra em supinação, os eixos da articulação transversal convergem, e o pé é transformado de uma estrutura flexível para um braço rígido para uma eventual propulsão.
No ponto médio da fase de médio apoio (ou aproximadamente 50 a 60% da fase de apoio), o calcâneo já se moveu da posição de eversão para a neutra. A posição neutra pode ser descrita como a congruência da cabeça do tálus dentro da pinça, com a bissecção do calcâneo perpendicular ao solo. As cinco cabeças dos metatarsos devem também estar em um plano perpendicular á bissecção do calcâneo. Durante a última metade da fase de médio apoio, a articulação subtalar prossegue a supinação e o calcâneo sofre uma inversão de aproximadamente 2º, antes da fase de retirada do calcanhar. A contínua convergência dos eixos da articulação transtarsal aumenta a rigidez do pé.
Período de impulsão. O período de impulsão da marcha inicia com o levantamento do calcanhar e termina com a retirada do hálux. Esta fase é a continuação do período de médio apoio, com uma rotação externa do membro inferior, supinação da articulação subtalar e convergência dos eixos articulares transtarsais. Na fase de retirada do hálux, o calcâneo já sofreu inversão de aproximadamente 4 a 6º.
Para resumir, durante a fase de apoio, a articulação subtalar age como torque conversor, pela absorção da rotação do membro inferior, enquanto o pé mantém sua linha de progressão. A pronação e supinação da articulação subtalar direcionam os planos dos eixos da articulação transtarsal para um paralelismo ou convergência. Assim, o pé é transformado de uma estrutura acomodativa e flexível no toque de calcanhar para um braço rígido, para uma efetiva propulsão na retirada do hálux. Finalmente, o mecanismo de absorção de choque é produzido através da pronação da articulação subtalar tanto pelo efeito direto quanto indireto.
Normalmente, o pé é um mecanismo eficiente. Entretanto, qualquer retardo ou demora de um destes três períodos da fase de apoio altera a eficiência e produz uma marcha anormal. sugiro leitura da anatomia do pé.
OBS: Numa próxima postagem vamos falar sobre os tipos de pé e suas alterações, o que pode provocar no corpo e suas possíveis patologia.